A dor crônica é uma condição que afeta cerca de 60 milhões de brasileiros. Cerca de 50% dessas pessoas apresentam sério comprometimento em sua rotina. Entenda o que caracteriza a dor crônica e como o tratamento interdisciplinar pode melhorar a qualidade de vida de quem sofre com dores constantes.
A dor tem uma função muito importante para nosso organismo, nos alertando que há algum problema acontecendo. O corpo detecta estímulos nocivos através dos nociceptores. Estes receptores conseguem detectar estímulos térmicos (como queimaduras), mecânicos (como pancadas) ou químicos (ardência causada por um medicamento em um corte). Esses estímulos captados pelos nociceptores são transformados em impulsos elétricos, que por sua vez são levados através dos neurônios até chegar ao cérebro, onde essa informação se espalha por diversas áreas, relacionadas a diferentes aspectos, como sensação, cognição, emoções, memória. Dor é o resultado desse processo complexo, que é fundamental para a nossa sobrevivência. Se não sentíssemos dor, não conseguiríamos proteger nosso corpo adequadamente.
Para entendermos o que é a dor crônica, vamos recorrer a uma analogia. Ao avisar-nos de que há algo errado acontecendo, a dor funciona como um alarme, assim como o de uma casa. Se um bandido tenta entrar na casa, o alarme soará, nos avisando que há um risco de assalto.
Agora imagine que o alarme de uma casa passou a disparar aleatoriamente, mesmo que não haja ninguém por perto. O alarme perdeu a sua função, já não mais nos avisa dos riscos e perigos. Assim acontece com a dor crônica: a condição dolorosa passa a ser o problema em si, não é mais apenas um aviso de uma outra enfermidade. A jornalista Melanie Thernstrom, no livro "As Crônicas da Dor" afirma que "a dor crônica é a fração da dor que a natureza não consegue curar, que não se resolve com o tempo, que só piora".
Resumindo: a dor aguda segue a uma lesão do tecido e é temporalmente limitada, ou seja, ao curar a lesão, a dor cessa. A dor crônica persiste além do período de reparação do tecido ou é associada a doenças crônicas. Exemplos de dor aguda são as fraturas, queimaduras, ou a dor pós-operatória. Exemplos de dor crônica são condições como artrite, artrose, fibromialgia, dor lombar inespecífica, entre muitos outras.
A dor crônica é muito difícil de ser curada. Trata-se de um problema complexo, que exige um trabalho interdisciplinar, envolvendo profissionais de diferentes especialidades. Em muitos casos, o objetivo não será acabar a dor completo, mas promover um alívio o mais sustentável e duradouro possível e ajudar a pessoa a ter uma qualidade de vida melhor. Para isso, vários recursos podem ser empregados.
Medicamentos e procedimentos intervencionistas podem oferecer o alívio significativo da dor. A fisioterapia é imprescindível para promover a reabilitação. O trabalho psicológico e, em alguns casos, psiquiátrico, é importante, pois a dor crônica geralmente acarreta alterações emocionais, podendo levar a condições como a ansiedade e depressão. Pesquisas científicas também apontam ótimos resultados no uso da acupuntura. São muitas as opções de tratamento e é essencial que os profissionais envolvidos trabalhem de forma integrada, em um constante diálogo, para promover a saúde do sujeito como um todo e não apenas de seu sintoma.